Na noite de domingo, 19 de agosto, autoridades e a sociedade civil reuniram-se no Pestana Hotel, em Salvador, para dar início ao I Seminário Internacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, que contou com a presença do professor e um dos precursores da Teologia da Libertação, Leonardo Boff. O evento idealizado pela Superintendência de Recursos Hídricos (SRH) do estado da Bahia, que tem à frente o Sr. Júlio Rocha, tem o objetivo de construir as diretrizes para a construção do Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação, considerando o Programa de Ação Nacional (PAN Brasil) elaborado no ano de 2004, como norteador.
O seminário será voltado para impedir o avanço do processo de desertificação em áreas do Extremo Oeste e na região semi-árida do Nordeste da Bahia, e reverter os núcleos de arenização e desertificação que já se encontram nas cidades de Uauá, Euclides da Cunha e Alagoinhas.
O deputado estadual Zé Neto, ex-presidente e atual membro da Comissão de Proteção ao Meio Ambiente da Assembléia Legislativa da Bahia, esteve presente na solenidade de abertura do evento, juntamente com representantes de órgãos ambientais a nível internacional, como o representante da United Nations Convention to Combat Desertification (UNCCD/ONU), Sr. Heitor Matallo; e nacional, nas esferas federal, estadual e municipal.
Na ocasião os presentes alertaram sobre as consequências danosas ao planeta Terra, que já apresenta sinais de limitações, resultados dos processos de degradação ambiental e do uso irracional dos recursos naturais pela sociedade. “Se continuarmos nesse processo, em 2050 o semi-árido terá virado uma região árida, e as áreas úmidas poderão se converter em áridas”, alertou Sr. Egon Krakhecke, Secretário de Desenvolvimento Rural Sustentável e Extrativismo do Ministério de Meio Ambiente e representante da Ministra Marina Silva. “Desenvolvendo esforço de articulação e integração de ações entre governos e sociedade, como estamos fazendo aqui na Bahia com a implementação do Programa de Combate à Desertificação, ainda teremos condições de mudar esse quadro”, completou.
O Diretor-geral da Superintendência de Recursos Hídricos, Júlio Rocha, enfatizou sobre a diferença de um programa quando é feito com participação da sociedade. Exemplificou, citando ainda, as diversas atividades realizadas pelo deputado Zé Neto enquanto presidente da Comissão de Meio Ambiente (2005-2006), que promoveu relevantes debates, sempre priorizando a participação dos indivíduos.
Após uma apresentação cultural do Grupo Caçoá do estado de Alagoas, Leonardo Boff iniciou sua palestra apresentando o vídeo “A Carta da Terra” que segundo o professor “é um código de ética global por um desenvolvimento sustentável, que propõe mudanças em atitudes, valores e estilos de vida”. Boff trouxe aos presentes uma reflexão sobre as responsabilidades individuais, que somadas, serão capazes de mudar os rumos do planeta. “Estamos vivenciando uma grande crise civilizatória. Betinho já dizia que a verdadeira crise da humanidade é crise de sensibilidade. Falta-nos o sentimento de amar a Terra. A sensibilidade é a base da redescoberta do valor, do amor. Nós somos fundamentalmente pessoas que sentem, e essa dimensão tem que ser resgatada porque toda a modernidade colocou isso em suspeita”, salienta.
“A Carta da Terra incorpora estas dimensões. Ela vê o ser humano como aquele que é responsável pelo planeta. Isso é a singularidade. Nós somos um elo da cadeia da vida. Estamos desarticulados, e a Carta da Terra tem a função de fazer a humanidade se reencontrar”, completa.
O evento ocorrerá ainda nesta segunda e terça-feira, 20 e 21, respectivamente, no auditório da Fundação Luís Eduardo Magalhães, no CAB, com realização de mesas-redondas e oficinas. Serão formados três grupos de trabalhos para discutir os seguintes eixos: redução da pobreza e da desigualdade; ampliação sustentável da capacidade produtiva; preservação, conservação e manejo sustentável dos recursos naturais; gestão democrática e fortalecimento institucional.