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Jan
Deste montante, R$ 49,7 bilhões já estão em fase de implantação, com a expectativa de gerar 114 mil empregos diretos
Em toda a Bahia pipocam investimentos de diversos setores da indústria – de bebidas à celulose, passando por mineração, automóveis e petroquímica. São nada menos que R$ 70,5 bilhões em recursos previstos segundo dados condensados pela Secretaria de Indústria e Comércio e Mineração do Estado.
Deste montante, R$ 49,7 bilhões já estão em fase de implantação, com a promessa de gerar 114 mil empregos diretos. O restante ainda se limita às intenções de empresas que esperam uma retomada da economia ou a solução de gargalos logísticos para desembarcar em território baiano.
O empenho baiano em "tirar o atraso de décadas", nas palavras de alguns observadores do mercado, já chega aos números apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até novembro do ano passado – os dados do ano fechado ainda não foram divulgados –, a produção industrial do Estado havia avançado 4,6%.
O resultado é muito superior ao nacional, que ampliou 1,4% da produção industrial no mesmo período, em comparação a 2012. Foram 550 mil empregosgerados nos últimos sete anos.
Ao contrário da maior parte do Brasil, onde a indústria não caminhou tão bem no ano passado, em 2013 a Bahia continuou apresentando bons resultados. Para a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), esse é o retrato de uma indústria pouco dependente de questões cambiais e principalmente pouco ameaçada pelas importações. "A indústria baiana tem setores intensivos de capital e força maior na produção de bens intermediários, como o refino de petróleo. Não produzir diretamente para o consumidor final oferece uma pequena margem de segurança frente a exportações", afirma Marcus Verhaine, gerente de estudos técnicos da Superintendência de Desenvolvimento Industrial da Fieb.
Atualmente, a Bahia tem o maior crescimento da produção entre os Estados pesquisados pelo IBGE na Pesquisa Industrial Mensal (PIM). Embora haja investimentos em diversos setores, a Fieb, entende que há três motores principais para esse crescimento: o setor de petróleo, o automotivo e a metalurgia básica. “Tivemos um crescimento de 14,75% faturamento com o petróleo refinado aqui na região. Isso teve um impacto significativo”, afirma Verhaine.
Outro setor relevante neste último ano foi o automotivo. Com a produção da Ecosport da Ford – terceiro mais vendido da sua categoria – na planta da montadora em Camaçari (BA), os resultados desta cadeia saltaram 21,66%, segundo a Fieb.
Verhaine espera que a produção do Ka Concept, carro popular anunciado pela montadora em novembro passado, infle ainda mais o desempenho do setor. A fábrica atualmente tem capacidade produtiva de 250 mil carros por ano. Com a implantação da linha do novo Ka, a produção da unidade fabril deverá passar para 300 mil unidades por ano.
Na metalurgia básica, Verhaine explica que o crescimento de 25,83% no faturamento já era esperado. Além da parada técnica para otimização da fábrica do Grupo Paranapanema em 2012, a modernização já previa uma melhora nos resultados da empresa.
Investimentos concentrados em Camaçari (BA)
As três indústrias que mais se destacaram na Bahia no ano passado fazem parte no polo industrial de Camaçari (BA), que hoje concentra cerca de 90 empresas. A grande vantagem da região é a capacidade de estabelecer longas cadeias, como no caso do setor petroquímico. “Trabalhamos ao longo das décadas como um grande condomínio industrial. Desde o início, 35 anos atrás, o Polo de Camaçari foi planejado e organizado para isso”, diz Mauro Pereira, superintendente geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic). Atualmente, a cidade abriga o maior complexo industrial do Hemisfério Sul.
O ativo total do polo saltou de US$ 12 bilhões para US$ 16 bilhões em 2011 e a expectativa é que em 2015 chegue a US$ 22 bilhões – excluindo aportes do governo em itens de infraestrutura. Hoje, hospedando empresas como Ford, Basf, Kimberly Clark, Braskem, entre outras, desfruta de posição privilegiada entre os observadores da economia mundial. Pereira conta que o Banco Mundial tem estudado o modelo camaçariense. “Eles querem aplicar nosso modelo fora do Brasil”, aponta.
Na cadeia petroquímica, o maior investimento é o da Basf, que tem R$ 1,2 bilhão investidos nas três unidades do seu Polo Acrílico em Camaçari – o maior aporte da companhia em cem anos. A ideia é receber a matéria-prima da Braskem para produzir materiais em escala global. Segundo Willi P. Nass, vice-presidente do Projeto Complexo Acrílico da Basf, a escolha da Bahia para o investimento tem a ver justamente com a possibilidade de atuação nesta cadeia e com as características particulares do mercado nordestino
A Braskem é o única fornecedora nacional do propeno, matéria-prima para Basf, que fabricará no Pólo Acrílico produtos para o setor agroquímico, para a construção civil e para a linha de cuidados pessoais. Dentro da cadeia, a Kimberly-Clark, também sediada em Camaçari, deverá processar os polímeros super-absorventes para uso do consumidor final.
Outro atrativo é o público local. “Se você olha a dinâmica das classes sociais, a perspectiva de mercado do Nordeste é grande”, afirma Nass. Ele está falando da mobilidade social do recente aumento da renda média da população. Lá o consumo ainda não chegou ao seu ápice e observadores locais vêem boas possibilidades de negócios.
Outras regiões, mesmo Estado
Não é só em Camaçari (BA) que estão os esforços da indústria baiana. Outras regiões do Estado também têm mostrado bons resultados, como o Nordeste, do Sul e do Sudoeste. Um dos casos é a indústria de bebidas, em Alagoinhas (BA), cidade com pouco mais de 141 mil habitantes no Nordeste do Estado.
Lá, empresas como a Brasil-Kirin, antiga Schincariol, e o Grupo Petrópolis já estruturam uma cadeia de fornecedores para otimizar a produção local.
Nos próximos meses, uma nova cerveja deverá estar na prateleira dos varejistas de todo o país. A Petra Pielsen, do Grupo Petrópolis, vem como uma opção mais refinada de cerveja leve, de verão. A fabricante de marcas como Itaipava e a Petra produziu nada menos 19 milhões de hectolitros de cerveja – o que a colocou em segundo lugar no mercado nacional, faturando R$ 7 bilhões.
Com uma expectativa de 1,9% de encolhimento na produção nacional em 2013, Douglas Costa, diretor de Mercado da companhia, espera um crescimento de 2% nas suas linhas de produção. “O ano passado o brasileiro estava com o bolso mais enxuto”, diz.
Uma das responsáveis por esse otimismo é justamente a unidade de Alagoinhas (BA). Há pouco mais de seis meses em operação, é responsável por 20% de toda a produção da empresa e já fornece produto para todo o Estado – onde o Grupo passou de 1,55% para 6,73% de participação de mercado.
A fábrica é fruto de um investimento de R$ 1 bilhão feito pela companhia no ano passado, gerando 500 empregos diretos e outros 3,5 mil indiretos.
No ano passado, o Grupo Petrópolis desembarcou no estado em busca de mais uma unidade produtiva para a cerveja Itaipava, carro-chefe da fabricante. Segundo Costa uma conjunção de fatores os levou até lá. “Encontramos em Alagoinhas um lugar ideal em suprimentos e logística”, aponta. “Lá temos água de qualidade por perto, capacidade de escoamento da produção.”
As empresas também contaram com um benefício fiscal que deve perdurar por 10 anos. Recentemente o grupo anunciou a Itaipava como patrocinadora oficial do circuito Barra-Ondina, do badalado carnaval em Salvador.
No sul, a indústria de papel e celulose ganha destaque com empresas como Fibria e Suzano. “A Bahia tem uma vocação enorme para o plantio de papel e celulose graças às questões climáticas e geográficas”, explica Jorge Cajazeira, diretor de Relações Institucionais e Certificações da Suzano, que tem fábrica em Mucuri (BA), município com pouco mais de 36 mil habitantes, desde 1992.
Cajazeira lembra que existe uma relação clara entre o aumento da renda e o consumo de papel, o que torna o Nordeste atrativo. Mas é o mercado exportador que desperta o interesse da empresa. O executivo explica que a posição geográfica permite acesso aos mercados norte-americano, chinês e europeu com vantagens ao Sudeste. Atualmente, a Ásia é o que chama mais atenção do executivo.
Enquanto nos Estados Unidos o custo médio de produção de uma tonelada de celulose é de US$ 55 dólares por metro quadrado, por aqui o mesmo volume custa US$ 43, o que caracteriza uma “enorme vantagem competitiva”, nas palavras do executivo. O que mata é a logística: para transportar uma tonelada de papel ao porto, nos Estados Unidos gasta-se US$ 20; no Brasil, US$ 90.
Apesar de distante dos portos baianos, a Suzano desova sua produção no Espírito Santo, pelo Portocel, único no País especializado no embarque de celulose. Novamente, a posição geográfica ajuda: em menos de três horas, a produção sai de Mucuri e chega ao porto por terra.
Cajazeira é mais um dos industriais que torce pela construção do polêmico Porto Sul, em Ilhéus (BA). “Seria um atrativo para exportar papel, já que haverá um terminal específico para contêineres, único meio de transporte do produto por via marítima.”
O Sudoeste, com um trabalho forte de mineração de ferro, cidades pequenas como Caetité, com pouco mais de 42 mil habitantes, ganham destaque na indústria do Estado. Lá, quem apita o jogo é a Bahia Mineração que pretende tirar 20 milhões de toneladas de ferro por ano do projeto Pedra de Ferro. Para atender a essa expectativa, corre o projeto da Ferrovia Integração Leste Oeste, que pretende conectar Caetité a Ilhéus, onde o Porto Sul receberia e despacharia o minério para o mercado internacional.