As mulheres lutam, cotidianamente, para conquistar cada vez mais direitos, em busca da tão clamada igualdade de gênero. Embora venham conquistando cada dia mais espaços no mercado de trabalho, e em outras esferas sociais como a política e a produção do conhecimento, ainda encontram-se encurraladas e sobrecarregadas pelas tarefas da reprodução da vida, como o cuidado com a casa e os filhos. Elas precisam pensar e agir em termos ambivalentes para dar conta de suas múltiplas tarefas, termos que permitem combinar e não escolher. As mulheres não buscam construir uma sociedade de mulheres “considerada mais doce e mais afetiva do que uma sociedade dos homens, julgada mais conquistadora e mais voluntariosa”, mas sim um modelo reformulado de uma cultura solidária e diversa, que possa ser vivida por todas e todos.
Desde o surgimento das relações sociais entre homem e mulher, as mulheres eram educadas com um dito “perfil ideal”. A educação era calcada na virtude e no sentimento, geradora da imagem de esposa e mãe, e a sociedade ensinava como melhor desenvolver as tarefas domésticas. Essa é a base da sociedade sexista: a divisão sexual do trabalho. Só a partir do século XIX que a mulher passa a ser vista sob novos aspectos, no entanto, sempre mantendo os interesses da manutenção dos privilégios patriarcais. As desigualdades em relação aos homens ainda são visíveis, como por exemplo, as mulheres não podiam frequentar uma universidade há alguns anos. Após as I e II Guerras Mundiais, as mulheres começam a ser inseridas no mercado de trabalho, pois, os homens iam para as batalhas e elas passavam a assumir os negócios da família e a posição deles, mas nunca com opção de abandonar as "tarefas do lar".
Desde então, a história das mulheres vem sendo traçada em contradições: ao mesmo tempo em que há uma queda da taxa de fecundidade e o aumento do nível de instrução da população feminina, o que mostra um crescimento na autonomia sobre seus corpos e vidas, cresce também o índice de violências sobre estes sujeitos. Isto é, o número de filhos por mulher vem reduzindo significativamente nas últimas décadas, paralelo ao aumento da instrução das mesmas na busca de realização e desenvolvimento de suas potencialidades. A atividade produtiva fora de casa passou a ser tão importante quanto à maternidade, pois atende a um modelo de produção baseado na acumulação do lucro, sem romper, no entanto, com a divisão sexual do trabalho.
O processo de inserção das mulheres, em grande escala, no mercado de trabalho remunerado trouxe consigo mudanças significativas na configuração das famílias. As mulheres participam, atualmente, de forma decisiva no orçamento doméstico: hoje boa parte das famílias brasileiras é chefiada por mulheres e isso tem um impacto sobre a economia como um todo.
Os investimentos dos últimos governos em políticas públicas de transferência de renda foram fundamentais e atingiram, sobretudo, as mulheres. Por isso também têm sido as mulheres as protagonistas da luta pela redemocratização do Brasil, desde o golpe parlamentar que levou um presidente ilegítimo à presidência da república. O último 8 de março foi um indicativo do quanto, internacionalmente, as mulheres têm se organizado para resistir ao conservadorismo e aos retrocessos no mundo inteiro. A agenda da reforma da previdência e do corte em investimentos em saúde e educação tem mobilizado milhares de brasileiras por uma nova plataforma popular e democrática para o país.
As mulheres seguem resistindo. As lutas que travam em suas vidas pessoais, de enfrentamento à violência e sobrevivência econômica, também são lutas articuladas em uma perspectiva coletiva, por uma nova sociedade, emancipada e libertadora. Devemos nos espelhar em seus exemplos de superação para a construção de um mundo justo e igualitário.